Pedimos ao grupo Arquitetas Invisíveis que para a comemoração do Dia do Arquiteto selecionassem as arquitetas brasileiras que mais as inspiram e compartilhassem este material conosco. Segue abaixo o texto produzido por elas e um pouco mais sobre as mulheres que marcam o panorama nacional da Arquitetura.
Hoje, dia 15 de dezembro comemoramos o dia do arquiteto. E como não lembrar das curvas de Niemeyer? Ou da Brasília de Lucio Costa? Passando pelo Brutalismo de VillaNova Artigas e tendo ainda os grandes nomes de Paulo Mendes da Rocha, Rino Levi e Marcio Kogan. O Brasil já conta com grandes exemplos desde o século passado, nossa história arquitetônica e urbanística já constitui um dos grandes orgulhos nacionais.
Porém, neste dia do arquiteto não viemos exaltar esses homens já tão conhecidos e prestigiados. Viemos com a simplicidade de um gesto fazer nossa homenagem a quatro grandes arquitetas, mulheres que ao longo da sua trajetória mostraram não só seu amor pelo Brasil, mas também uma arquitetura que abraça nossa diversidade e insere-se nos mais diferentes contextos. As arquitetas escolhidas contemplam diversos momentos do cenário arquitetônico nacional, inclusive o contemporâneo. São mulheres com ricas e distintas histórias de vida, e com obras arquitetônicas que atingem as diferentes áreas do ofício.
Escolher quatro mulheres para representar a arquitetura brasileira neste dia não é só uma resposta aos anos de repressão que elas viveram, é também um alerta a estudantes, profissionais e pessoas que vivem a arquitetura diariamente. Mesmo depois de tantas conquistas sociais, a atuação profissional e consequente reconhecimento dessas profissionais têm sido prejudicados pelo simples fato de serem mulheres. Chama-se atenção aqui para os inúmeros papéis desenvolvidos por essas ao longo de suas vidas e principalmente para o fato de como suas existências, permeadas de restrições e preconceitos, foram capazes de produzir obras de qualidade técnica e estética tão expressiva. São edifícios comerciais, residências, museus, intervenções urbanas entre inúmeras outras manifestações artísticas que de alguma forma mostram também o papel da mulher na arquitetura. Papel esse muitas vezes lembrado pela preocupação social, pelo gesto familiar... São características de fato relevantes e bastante presentes, mas que não devem reduzir projetos que possuem preocupações de caráter tão amplo quanto o próprio exercício da arquitetura.
Mayumi Souza Lima
A arquiteta Mayumi Watanabe de Souza Lima nasceu no Japão em 1934. Formou-se no Brasil, onde também construiu sua vida profissional, tendo sido naturalizada brasileira em 1956. Já no país, trabalhou com grandes nomes da arquitetura nacional, como Vilanova Artigas, Joaquim Guedes e Lina Bo Bardi. Fez sua graduação em arquitetura, porém seu mestrado foi na área de História e Filosofia da Educação. Essa formação teve influência direta na obra arquitetônica de Mayumi. A arquiteta elaborou uma série de projetos de escolas públicas para o país, tendo participado da construção de algumas delas. Desenvolveu ainda projetos de mobiliário e restauração para colégios. Ao longo de mais de trinta anos de trabalho junto a educadores, administradores de ensino básico, creches e crianças fora e dentro de instituições, a arquiteta discutiu e analisou questões relativas aos espaços destinados à criança em nossa sociedade. Seguindo nessa linha de trabalho, publicou dois livros: Espaços Educativos, uso e construção (Brasília, MEC/CEDATE, 1986) e A Cidade e a Criança (São Paulo, Nobel, 1989).
Mayumi desenvolveu o assunto também a partir da sua experiência acadêmica. Foi professora naz Faculdades de Arquitetura e Urbanismo da UnB, em Brasília, de Santos, de São José dos Campos e da Escola de Engenharia de São Carlos. Era aliada ao Partido Comunista e teve importante papel na discussão sobre a atuação profissional dos arquitetos a partir da crítica ao modo de produção capitalista. Colocava seus alunos em contato com as favelas no primeiro ano de estudo, buscando a politização dos estudantes. Acreditava na arquitetura aliada às mudanças sociais. Apesar da sua extensa atuação política e profissional, que inclui ainda o projeto de blocos residenciais da quadra 107 Norte de Brasília e o detalhamento e coordenação das obras do MASP, não existem registros fotográficos de Mayumi ou de sua obra disponíveis na internet. Faleceu em 1994.
Carla Juaçaba
Nascida em 1976 no Brasil, Carla Juaçaba formou-se em arquitetura na cidade do Rio de Janeiro, onde tem atuado profissionalmente com projetos de destaque internacional. Na área residencial, possui uma série de casas erigidas, tais como a Casa Mínima e a Casa Rio Bonito, que chamam atenção pela integração com a paisagem natural. Possui ainda obras inseridas em outras tipologias, como o desenvolvimento de museus históricos relacionados à arte nativa brasileira e o projeto do Pavilhão da Humanidade, obra temporária executada para o evento Rio +20, a qual se destacou pela adequação ao contexto de desenvolvimento sustentável da ocasião. Em 2013 a arquiteta foi contemplada com o prêmio ArcVision – Mulheres da Arquitetura.
Carmen Portinho
A engenheira e urbanista Carmem Portinho nasceu em 1903 e viveu até 2001. Nascida e formada no Brasil, atuou no país em diversas obras arquitetônicas e urbanísticas, tendo ao seu lado o arquiteto Afonso Eduardo Reidy. Dentre essas obras destacam-se o Aterro do Flamengo, os conjuntos habitacionais do Pedregulho e da Gávea, e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Apesar de edifícios marcantes e muito reconhecidos, o mérito do projeto e construção dos mesmos é, na grande maioria das vezes, atribuído somente a Afonso Reidy. Carmem cursou urbanismo na Inglaterra e, após voltar para o Brasil, foi nomeada diretora do Departamento de Habitação Popular no Rio de Janeiro, cargo que lhe permitiu realizar a construção dos conjuntos da Gávea e do Pedregulho, introduzindo os conceitos de habitação popular trazidos da Europa. Atuou ainda no movimento feminista nacional e fundou e coordenou, na década de 60, a Escola Superior de Desenho Industrial, assim como a Associação Brasileira de Arquitetas e Engenheiras.
Lina Bo Bardi
A italiana Achillina Bo Bardi nasceu em 1914 e viveu até 1992. Formou-se no seu país de origem, onde realizou alguns trabalhos. Entretanto, exerceu a maior parte de sua vida profissional no Brasil, vindo a naturalizar-se brasileira. Já neste país, desenvolveu uma série de projetos que abrangiam as mais diferentes tipologias. Elaborou um plano de recuperação do Centro Histórico de Salvador e outras propostas urbanísticas para bairros de São Paulo. Trabalhou ainda com projetos de edifícios, sendo o MASP (Museu de Arte de São Paulo) o mais conhecido deles. Lina explorou ainda outros campos além da arquitetura e urbanismo. Foi professora, escritora, designer gráfica, de jóias e de móveis, editora de revistas, cinegrafista, figurinista e curadora de exposições. Junto com seu marido, Pietro Maria Bardi, criou e dirigiu o Curso de Desenho Industrial no Instituto de Arte Contemporânea (IAC), onde lecionaram grandes nomes da arte nacional, como o pintor Lasar Segall, o paisagista Roberto Burle Marx e o arquiteto Rino Levi.
Em 1952, promoveu o Primeiro Desfile de Moda Brasileira com tecidos desenvolvidos especialmente para o clima, os quais possuíam padronagens feitas pelos artistas Sambonet, Burle Marx e Caribé. Nesse período, Lina ingressa no Partido Comunista Italiano e participa da resistência à ocupação alemã. Ao longo de toda a sua vida, participa e desenvolve projetos permeados de preocupação social, marcados pela influência da cultura popular brasileira e pela presença do diálogo entre as pessoas e os espaços/objetos.
Além das arquitetas selecionadas pelo coletivo Arquitetas Invisíveis, a equipe editorial do ArchDaily Brasil gostaria de adicionar outros nomes femininos que marcam a arquitetura nacional:
Jô Vasconcellos
Jo Vasconcellos | ArchDaily Brasil
Fernanda Marques
Fernanda Marques Arquitetos Associados | ArchDaily Brasil
CR2 Arquitetura